Sete entidades do setor agrícola e científico vão assinar na próxima terça-feira, na Estação António Teixeira, em Coruche, um protocolo nacional destinado a enfrentar os prejuízos provocados pelos javalis nas culturas de milho, uma preocupação crescente para agricultores de todo o país.
A iniciativa surge numa altura em que os danos causados por estes animais têm vindo a agravar-se, com impactos transversais. Segundo Jorge Neves, presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS), “a falta de alimentos nas serras, agravada pelos incêndios, está a levar os javalis a descerem para as zonas de produção agrícola, o que vai agravar ainda mais os prejuízos já enormes para os agricultores”.
O protocolo envolve o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a ANPROMIS, a Associação Portuguesa de Milho e Cereais de Milho (APMCM), a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e a Universidade de Aveiro.
Entre as medidas previstas estão ensaios experimentais com mecanismos de exclusão e dissuasão, como cercas elétricas, redes ovelheiras, barreiras luminosas e sonoras e jaulas de captura.
“Temos agora os instrumentos e as ferramentas necessárias para agir. Este protocolo é um passo importante para aplicar soluções concretas, começando pela instalação em Coruche, onde sentimos os mesmos problemas que os produtores de milho enfrentam”, sublinhou Jorge Neves, acrescentando a responsabilidade da associação em “contribuir para minimizar este problema”.
O dirigente alertou ainda para o abandono da agricultura de subsistência, sobretudo no norte do país, devido aos prejuízos causados pelos javalis. “Há pequenos agricultores que deixaram de semear porque não compensa. É mais uma causa de abandono da agricultura, com impacto económico e social”, afirmou.
Apesar da gravidade da situação, Jorge Neves lamenta que “não haja apoios diretos do Estado”, lembrando que os seguros de colheita “são muitas vezes o único meio de mitigação disponível, embora nem todos os agricultores tenham acesso ou façam uso dessa cobertura”.
O presidente da ANPROMIS defende ainda a necessidade de desburocratizar o licenciamento das batidas aos javalis e de agilizar o aproveitamento da carne resultante dessas ações, apontando como exemplo acordos com empresas espanholas que recolhem carcaças em Portugal para comercialização.
A assinatura do protocolo insere-se no âmbito do Dia de Campo do InovMilho, que incluirá ainda debates sobre a pegada de carbono, a autonomia energética e a utilização de combustíveis na agricultura.