O património arqueológico de Muge deu este sábado um passo decisivo rumo à valorização e preservação da sua memória milenar. O Centro de Interpretação dos Concheiros de Muge foi oficialmente inaugurado a 13 de setembro, numa cerimónia que encheu o auditório da Casa do Povo da freguesia ribatejana, situada no concelho de Salvaterra de Magos.
Veja a reportagem vídeo:
Classificados como Monumento Nacional, os Concheiros de Muge são sítios arqueológicos de excecional relevância, únicos na Península Ibérica, onde foram identificados vestígios das últimas comunidades de caçadores-recoletores do Mesolítico, com mais de 8 mil anos de história. Descobertos em 1863 por Carlos Ribeiro, estes sítios integraram desde cedo os manuais de pré-história europeus.
O novo centro museológico pretende tornar compreensível para o público geral a importância científica de um património invisível a olho nu. “Ao contrário das ruínas romanas, aqui não há muros ou colunas. O que se escava são os testemunhos materiais de comunidades humanas do passado profundo”, explicou Roberto Caneira, historiador do município.
Além da exposição permanente com artefactos escavados nos últimos 17 anos pela equipa da Universidade do Algarve, o espaço inclui um laboratório, uma reserva arqueológica e será ponto de partida para visitas guiadas aos três sítios escavados – Cabeço da Arruda, Moita do Sebastião e Cabeço da Moreira.
A inauguração ficou ainda marcada pela apresentação do livro “Muge, Palavras e Memórias”, da autoria de Vítor Lucas, e por uma homenagem musical ao mestre Carlos Paredes, assinalando o seu centenário, com atuação de Tó Grenxo e Nuno Costa.
Para Helder Esménio, presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, este centro representa um investimento estratégico de cerca de 200 mil euros e uma aposta na relação entre ciência, território e comunidade. “Ao trazer o acervo arqueológico disperso de volta a Muge, reforçamos o sentimento de pertença e criamos condições para um futuro mais consciente da nossa história comum”, afirmou.
A comunidade local, os investigadores e os visitantes têm agora um novo espaço de encontro com a história do Vale do Tejo. Um espaço que aproxima a ciência das pessoas e dá vida ao passado.