Vivemos tempos em que a diversidade humana exige atenção redobrada ao modo como nos dirigimos uns aos outros. Cada pessoa é única, irrepetível, e merece ser tratada com respeito integral, independentemente das nossas opiniões sobre «género» ou «orientação sexual», para dar o exemplo.
A ciência demonstra que, biologicamente, existirão dois sexos: masculino e feminino. A ideia de género — como expressão de masculinidade, feminilidade ou identidade fora da dupla binária — é amplamente debatida como construção social ou expressão legítima da identidade humana. Mas isso não autoriza ninguém a usar linguagem depreciativa ou estigmatizante em relação a quem não se enquadra nesses padrões.
O impacto das palavras
Algumas vozes públicas afirmam com convicção que “há homem e há mulher. Ou é homem, ou é mulher! O resto é um pouco… aberrações”. Esta declaração, que se pretende categórica e esclarecedora, não é apenas provocadora: é desrespeitosa para aqueles cujas «identidades» ou «expressões de género» fogem da dita binariedade.
Na esfera pública, esse tipo de linguagem discriminatória e anti-cristã, reforça estigmas, alimenta exclusão e mina a dignidade daqueles que são atingidos por tais afirmações. A Constituição da República Portuguesa garante que todos têm direito à dignidade e à igualdade, independentemente do sexo, orientação sexual ou outra situação (o que é reforçado pelo Tratado Europeu dos Direitos do Homem e pela DUDH da ONU). O Código Penal prevê sanções para manifestações de discriminação ou incitamento ao ódio com base nestes critérios. Ainda assim, muitas vezes, discursos ofensivos percorrem os espaços públicos sem consequências, deixando intacto o impacto negativo sobre a sociedade.
O olhar da Igreja Católica
A Igreja Católica tem-se pronunciado sobre a chamada “ideologia de género”. Documentos como Homem e Mulher os Criou (2019) criticam certas interpretações de identidade de género, afirmando que construções como o “terceiro género” são fictícias. Mas a Igreja tem sempre reforçado que cada pessoa deve ser respeitada na sua dignidade. Nem poderia ser de outra forma, à luz do Evangelho.
Indignidade à vista da Presidência da República
É curioso observar que haja quem se apresente com ambição (?) de ocupar a mais alta magistratura — a Presidência da República — e tenha vindo a revelar-se indigno até das funções mais servicais. Palavras desrespeitosas, julgamentos sobre identidades humanas e uma propensão para reduzir os outros a meros rótulos contradizem aquilo que se exige a quem quer liderar com autoridade moral e ética. Se o respeito pelo próximo falha nos gestos mais simples, como se espera que se mantenha no cargo mais elevado do país?

O papel da sociedade
Numa sociedade aberta, as palavras têm impacto real. Quem fala como se tudo fosse preto ou branco, reduzindo as pessoas a rótulos binários e tratando o “resto” como aberrações, esquece que cada ser humano é singular. Esse tipo de discurso não contribui para a reflexão ou para o debate: alimenta preconceitos e separa em vez de unir.
Promover diálogo informado e empático, educar para o respeito da diferença e reconhecer que cada ser humano é irrepetível são passos fundamentais para uma sociedade mais justa, coesa e inclusiva.
A ciência confirma que existem dois sexos biológicos, e os debates sobre género como construção social são legítimos. Mas não podemos, de forma alguma, falar dos outros como se fossem “aberrações” ou meras abstracções. A verdadeira responsabilidade social reside em respeitar a dignidade e a singularidade de cada ser humano — o próximo — e em construir uma sociedade em que todos cabem. E, acima de tudo, exige-se que quem ambiciona a Presidência da República pratique, antes de mais, o respeito pelo próximo, mesmo nas funções mais simples e servicais.
José Luz
(Constância)
PS – Não uso o AOLP.
Nos anos 90 tive a oportunidade de visitar o Centro João Paulo II, de deficientes profundos, a convite do Padre Vítor Melícias, no âmbito de um Congresso das Misericórdias em que participei como dirigente. O amor que a UMP dedica a estas pessoas que alguns poderiam considerar pontualmente ‘aberrações’ (sic, segundo AV), é um verdadeiro teste da humanidade de cada um, segundo a provação divina.











