Hoje é dia de reflexão e venho partilhar a minha, depois de ter discutido o assunto. Discutir com respeito, em que as partes estão disponíveis para ouvir e discordar ou concordar, mantendo a amizade e a cordialidade, ou seja, aquilo que nos torna mais humanos, e que temos que cultivar.
Desde já digo: é impossível um cidadão não se identificar nem que seja com uma só proposta de determinado partido, até porque os programas políticos estão cheios de “must have” universais.
Para as juntas, é fácil saber qual é a pessoa da terra que resolve os assuntos com a maior capacidade e seriedade ou, na câmara, quem fez mais obra e é menos corrupto ou, ao contrario, usou o cargo como plataforma de lançamento. E depois existem os partidos, com a ideologia mais definida ou mais esbatida, usando de rentabilização de trabalho feito ou promessas para o futuro, com mais ou menos positividade ou realismo, há sempre quem ataque os outros ou explore emocionalmente o descontentamento do povo, que fica confuso. E os programas, extensos e triviais, com agendas mais ou menos escondidas, num sistema político decadente. Por fim, os debates, minúsculos, que não discutem ideias mas antes sao palco de guerra.
O voto é, portanto, uma coisa séria e exige resistência pacífica e algum trabalho da nossa parte, de estudo, de questionamento, de reflexão. Quando votamos, estamos a manifestar inequivocamente que apoiamos maioritariamente as ideias daquele candidato ou partido E AO MESMO TEMPO que, as ideias com que não concordamos, assumem uma dimensão menor, irrelevantes. Portanto, o voto deve ser a expressão da nossa convicção, do que queremos para nós, para a nossa família, para o ambiente, para o presente, e para o futuro. Se quiserem, para o nosso ecossistema pois é dele que dependemos.
Por exemplo, eu não poderia votar num partido que continuasse a desviar dinheiro dos contribuintes para espectáculos de maus tratos a animais, ou que não colocasse a defesa dos rios vivos em primeiro lugar, por mais que simpatizasse com as outras ideias e as pessoas que encabeçam as listas.
Também dizia que o voto não pode servir para protestar, nem para vingança, porque corremos o risco de estar a ser manipulados, de não sairmos do ciclo governativo das maiorias, de não vermos as tais ideias com que não concordamos, e de afinal eleger um programa que não é assim tão positivo e que não vai melhorar assim tanto o dia-a-dia.
Protestamos por escrito, em reuniões, em manifestações, greves, sindicatos, em assembleias municipais, em petições, em artigos, nas redes sociais, nos comentários das notícias, no Fórum TSF, nos tiktoks, etc. É um facto a liberdade que temos para protestar.
Mas no voto, que é só nosso, votemos com convicção num mundo mais pacífico, mais simples e mais positivo.
Ana Pereira
Bióloga