Santarém juntou-se esta terça-feira, 2 de outubro, a centenas de cidades por todo o mundo numa vigília de solidariedade com o povo palestiniano. O Jardim da Liberdade, no coração da cidade, iluminou-se com velas, lanternas e rostos silenciosos que exigem paz, justiça e o fim do genocídio em Gaza.
A iniciativa, organizada por um grupo de cidadãos, contou com a presença de dezenas de participantes e inscreveu-se no apelo internacional para que, por toda a Europa, se fizesse luz pelos mais de 30 mil mortos desde o início da ofensiva israelita — com particular destaque para os 1.677 profissionais de saúde assassinados em Gaza, entre médicos, enfermeiros e socorristas, muitos deles em serviço nos hospitais.
“Os nomes que lemos não são apenas números”
Um dos momentos mais marcantes da vigília foi a leitura dos nomes dos profissionais de saúde mortos, feita pelo médico palestiniano Yahia Abuodwa, residente em Santarém e profissional no Hospital Distrital. Emocionado, recordou que muitos dos seus colegas e amigos “perderam a vida a tentar salvar outras”.
“Estes nomes que hoje lemos não são apenas números. São vidas, famílias, pessoas que escolheram cuidar e foram mortos por isso”, afirmou.
Ao longo do jardim, cartazes improvisados, bandeiras da Palestina e mensagens de apelo à justiça davam corpo à indignação dos presentes.
Justiça, paz e ação coletiva
O historiador Vítor Serrão, uma das vozes da iniciativa, deixou um apelo claro à mobilização da sociedade civil portuguesa:
“O que se passa em Gaza é inaceitável. É uma tragédia humana diante dos nossos olhos e todos temos o dever de nos levantar. O silêncio é cúmplice.”
Nas intervenções, foi ainda lembrada a detenção de ativistas portugueses pela marinha israelita, quando integravam a flotilha humanitária Freedom Flotilla, que tentava chegar à Faixa de Gaza com ajuda médica e alimentar. A sua prisão, referida como mais um episódio de repressão, marcou simbolicamente a realização da vigília em Santarém.
Boicote, sanções e fim do apoio militar
Além da homenagem, a vigília serviu para reafirmar três exigências concretas ao governo português: o fim do apoio político e militar a Israel, o boicote económico e institucional ao regime israelita, e a intervenção diplomática ativa nas instâncias internacionais para o reconhecimento pleno do Estado da Palestina.
A vigília decorreu em silêncio, sem palavras de ordem nem discursos partidários. Foi um momento de respeito e resistência, onde a simplicidade dos gestos — uma vela acesa, um nome pronunciado — ecoou mais alto do que qualquer comício.
Em Santarém, como em tantas cidades do mundo, fez-se luz pela Palestina.