A presente crónica, e outras que se seguirão, é resultante da selecção de algumas passagens do estudo epidemiológico ‘Influência da taxa de desemprego no suicídio em população em idade activa em Portugal no período de 2014 a 2017’, da minha autoria.
A cada 40 segundos alguém põe termo à própria vida deliberadamente, ou seja, comete suicídio.
Anualmente são registados cerca de 800.000 suicídios em todo o mundo, o que corresponde a uma taxa de mortalidade de 10,7 por 100 000 habitantes.
Nos
últimos 45 anos, a taxa aumentou em 60% (OMS, 2012). Em Portugal,
segundo a Organização Mundial de Saúde, a taxa ronda os 8,6 por 100 000
habitantes.
Na
Europa, a taxa de suicídio em idade activa em indivíduos do sexo
masculino situa-se entre os 20 e o 30 por 100 000, aproximadamente. Já
nas mulheres, a taxa é bastante inferior, oscilando entre 4 e 8 (Varnik,
2012).
Taxas
de suicídio elevadas representam elevados custos para os países,
especialmente quando pessoas jovens ou de meia idade, que estão prestes a
começar ou começaram há pouco tempo a sua vida profissional (e
familiar), põem termo à vida. Nos USA, no início dos anos 2010, os
custos de um só suicídio ascendiam aos 5 milhões de dólares (Shepard et
al., 2015).
O
suicídio está relacionado com doenças psiquiátricas, entre elas:
depressão, psicose, abuso de substâncias, perturbação de personalidade,
perturbação alimentar, perturbação de stress pós-traumático. O número de
suicídios nesta população é 10 vezes superior ao da população em geral,
levando a que 60-98% de todos suicídios ocorram em pessoas com doenças
psiquiátricas (Röcker e Bachmann, 2015). Os suicídios relacionados com
depressão (com sintomas psicóticos, muitas das vezes) ocorrem sobretudo
na população mais velha. Por outro lado, em pessoas entre os 20 e os 30
anos, o suicídio relaciona-se com a perturbação bipolar (Vythilingam et
al., 2003). O uso de drogas ilícitas, especialmente a cannabis, pode
fazer aumentar a probabilidade de suicídio em 60% (Leite et al., 2015).
De
facto, qualquer doença crónica, desde que provoque incapacidade
importante, pode aumentar a probabilidade de suicídio. São exemplos
disso a neoplasia, a esclerose múltipla, epilepsia/mal epiléptico,
status pós-AVC ou enfarte agudo do miocárdio, lesão da medula espinhal,
lúpus eritematoso sistémico, asma, doença renal com necessidade de
diálise, etc (Rahman et al., 2014).
Não
são apenas as doenças a influenciar o fenómeno do suicídio, mas sim
todos os factores que podem levar ao agravamento ou despoletamento de
doença mental. Ocorre em momentos de crise: individual/psíquica,
familiar, socioeconómica (OMS, 2014).
Alguns destes factores serão abordados numa próxima crónica.
André Arraia Gomes
Nota do autor: Por uma questão de espaçamento, apenas referencio o autor e ano das fontes bibliográficas, dada a quantidade e extensão das mesmas.