Em Fevereiro de 2018, escrevi uma crónica no então único jornal semanário, verdadeiramente independente, que se editava em Santarém (O Ribatejo), onde abordei o tema da AAS – Associação Académica de Santarém e da urgência que era, proporcionar-lhe umas instalações condignas e merecedoras da sua história e importância para o desporto no concelho.
Parte do texto dizia assim:
“É preciso resolver com urgência os problemas da sede, de uma das mais antigas e prestigiadas associações desportivas do Concelho e até do Distrito. Estou a falar da Associação Académica de Santarém (AAS) e de um acordo que praticamente estava assumido por três instituições e que iria resolver a situação das precárias condições do seu edifício sede.
Historiando: o edifício necessita de obras urgentes estimadas em cerca de 350 mil euros, quantia que, como é óbvio, a AAS não dispõe. O edifício, desde sempre sede da AAS, é propriedade da Misericórdia de Santarém (SCMS) que, como senhorio, não está disponível para dispor daquela verba necessária para a sua conservação. As diligências e negociações prosseguidas, levaram a juntar esforços também com a Câmara Municipal que, tendo em atenção a importância daquela instituição para a cidade e para o Concelho, se teria disposto a ajudar à resolução do problema.
Segundo o que foi público, a Misericórdia faria as obras financiadas por um empréstimo bancário; a CMS pagava as rendas (durante quinze anos) que cobriam as prestações do empréstimo e a AAS continuaria o seu grande trabalho desportivo e social em prol da juventude do Concelho, mantendo a sua sede, que passaria a ser um edifício recuperado no Centro Histórico.”
Esta era, sem dúvida uma saída para a resolução de dois problemas à vista de toda a gente: premiava uma agremiação desportiva impar no Concelho, proporcionando-lhe uma sede decente e a cidade ficaria com um edifício recuperado no seu centro histórico, também aumentando assim a circulação de pessoas no que, cada vez mais, é um deserto urbano.
Mas, a falta de visão e o facilitismo fizeram com que a solução não fosse para a frente. A Junta de freguesia também assobiou para o lado e agora a Câmara, qual benemérita, ofereceu à AAS, o uso das antigas instalações do pavilhão do artesanato, no Campo Emílio Infante da Câmara (CEIC). Diria que se trata de um presente cheio de veneno e de ciclópicos trabalhos a que a AAS deverá atender e desincumbir-se com o maior cuidado e rigor, para não se tornar mais uma vítima desta gestão camarária acéfala e errática que vai empurrando com a barriga todos os problemas desta cidade, sem resolver nenhum definitivamente.
Serão mais dez anos em que o “Campo da Feira” vai manter o triste desígnio de ser mais um conjunto de instalações provisórias, cada vez mais ao estilo da ex EPC que, de tantos e tão variados ocupantes precários, se tornou num autêntico “albergue Espanhol”, agora também enriquecido com mais uma associação de militares (Associação Salgueiro Maia) a quem foi atribuído um teto no albergue.
Esta semana também se soube que a CMS cedeu as antigas instalações da Adega Típica de Almeirim no CEIC à associação “Os Ex-União Desportiva de Santarém (ADCR Ex-UDS)”, certamente merecedora de tal benesse, apesar da sua aparente irrelevância na comunidade.
De uma assentada, três associações foram instaladas em edifícios devolutos a necessitarem de grandes beneficiações e localizados em áreas cujo aproveitamento global é aguardado há décadas por quem verdadeiramente gosta de Santarém. Isto só quer dizer uma coisa: este executivo está-se nas tintas para projetar um futuro condigno aos dois mais importantes espaços públicos da cidade, o CEIC e a ex EPC.
Manuel Rezinga